
Estudantes do ensino médio            participam de aulão preparatório para o Enem - Foto: Dênio            Simões/Agência Brasília
        Os cursinhos populares voltados para públicos específicos          buscam preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem),          além de mobilizar lutas sociais. É o caso do cursinho da          Educafro Brasil, em São Paulo, voltado para a população negra e          periférica, que tem como meta o acesso à universidade e combater          a desigualdade educacional.
        "Nós temos a missão de entregar à faculdade não só um aluno          que passe na prova tradicional da faculdade, nós temos a missão          de entregar um aluno questionador e lutador para ajudar a fazer          acontecer as grandes transformações que sonhamos", disse o          diretor-executivo da Educafro, frei Davi.
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        Ele explicou que os estudantes têm aula de cultura e          cidadania, com mesma carga horária das demais aulas como          português e matemática, em que se trabalha fortemente o combate          ao racismo.
        "Nosso sonho é que esses alunos que vão ingressar nas          universidades públicas tenham a capacidade de questionar o          currículo dessas universidades que são exageradamente          eurocêntricas e marginalizam todo o saber afro e indígena",          revelou.
        "Nós queremos a universidade plural também na sua pedagogia,          na sua metodologia. Por exemplo, é um absurdo que grande parte          das universidades públicas, dos vestibulares, não cobra livros          de autores africanos, isso é um atentado contra nós          afro-brasileiros, só cobram livros de autores de origem          europeia, isso não está certo", acrescentou.
        Responsabilidade
        Outro problema apontado pelo diretor é a falta de          responsabilidade de sucessivos governantes que ocuparam o          Ministério da Educação ao não garantir a permanência de          estudantes negros nas universidades por falta de políticas          públicas. Segundo ele, a situação gerou grande estrago aos          jovens negros que entraram na universidade e depois precisaram          abandoná-la por dificuldades financeiras.
        "O governo federal, quando adotou cotas, prometeu que todos          os alunos que tivessem como renda até um salário-mínimo e meio,          todos eles receberiam imediatamente bolsa moradia e bolsa de          alimentação. E o governo até hoje não bota isso em prática",          reivindicou.
        Luiz Henrique, de 24 anos, está se preparando para o Exame          Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano por meio do curso          preparatório para vestibulares que a Educafro oferece. "A          Educafro foi o que nos permitiu ir além do ensino, que          geralmente é deficiente, nas escolas públicas, que é oferecido          para nós, porém, não só isso, como também a Educafro é um meio          de reunir várias pessoas sob a mesma égide, da luta contra o          racismo através de pautas sociopolíticas e econômicas",          ressaltou.
        Ele pretende fazer a graduação em Engenharia Mecatrônica,          Direito ou Engenharia da Computação, mas esse não é um objetivo          isolado para o estudante. "Para nós, a importância que damos          para o ensino superior se baseia não só na qualidade de ensino e          na possibilidade de uma carreira digna a um nível individual,          como também na oportunidade de alavancar o coletivo do povo          negro a possuir as mesmas possibilidades oferecidas a outras          etnias, através de uma rede de apoio e de contatos, tornando o          ensino superior de qualidade", disse.
        O estudante aponta ainda que a escolha das profissões passa          por um desejo de construção coletiva da sociedade. Sobre a          Engenharia Mecatrônica, ele acredita ser uma área importante          para a soberania nacional, e relacionou os outros dois cursos          diretamente ao combate ao racismo.
        "Direito, pois acredito que é o melhor curso para proteger a          população negra das injúrias cometidas seja no mercado de          trabalho ou pelas instituições que deveriam nos proteger, porém,          abusam do poder que é confiado a eles, e Engenharia da          Computação, porque é uma área que está em alta, e quero fazer          parte dos esforços da população negra para o acesso a essa",          finalizou.
        Pontuação
        A estudante Pamella Santos, de 38 anos, também está se          preparando para a prova do Enem por meio da Educafro. "Eu estou          muito determinada e focada nos estudos pois, desde de que          comecei a fazer o cursinho da Educafro, melhorei muito minha          pontuação no Enem, coisa que não conseguia nas provas dos outros          anos", contou.
        "Eu sou uma pessoa totalmente justa e sempre busco a justiça,          a igualdade, a defesa e conhecimento fazendo com que a nossa          Constituição seja realmente válida e reconhecida", disse a          estudante, que pretende cursar Direito.
        Ela acrescentou que a Educafro teve papel relevante em sua          busca pelo ensino superior, porque há a possibilidade de a          entidade fornecer computador para quem precisa, os professores          têm boa bagagem de conhecimento e há atendimento psicológico à          disposição.
      

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