Opinião: Educação começa com L



Luiz Fernando Schibelbain*

Muito se tem debatido sobre Educação ao longo dos anos e, em 2020, essas trocas romperam paradigmas para ir ao encontro do que seria mais adequado e factível em tempos de desafios pandêmicos: uma pausa na trilha tocada de forma habitual para uma adaptação e flexibilidade inimagináveis no curtíssimo prazo. Educadores que somos, não desistimos jamais! Na minha área de esperteza, Educação começa com L. O espectro de palavras com essa letra inicial é vasto e muitas delas podem ser usadas com a argumentação adequada. Mas, aqui, escolho o enfoque Linguístico. 

Afinal, como línguas e Educação se moldam? Dominar línguas – duas pelo menos – é chave para melhorar a vida e o trabalho dos indivíduos no contexto de mundo atual. Além de promover a mobilidade, a aprendizagem diversa ao longo da vida e a remoção de barreiras à inclusão social, a melhoria da aprendizagem linguística é um facilitador fundamental para uma educação na qual aprender, estudar e pesquisar não sejam anulados pelas fronteiras.

O objetivo educacional e linguístico é ambicioso: garantir que, quando os jovens deixarem o Ensino Médio, possam falar e escrever bem em pelo menos dois idiomas - o seu idioma mãe e um idioma adicional; ter conquistado ganhos em contextos de alfabetização/biletramento, consciência linguística e multiculturalidade e estarem aptos para projetarem sua voz globalmente. Cultura está relacionada a traços e características de povos que, por coabitarem um mesmo território geográfico – a nação –, compartilham valores e costumes comuns. Desse modo, é frequente pensarmos em cultura brasileira, cultura inglesa ou americana, por exemplo, mas na educação com L, cultura não é um conjunto de valores e características estáveis que faz com que os indivíduos se comportem de certa maneira comum a todos os outros que também nasceram e cresceram naquele território específico. É um conjunto de ferramentas subjetivas, afetividades, memórias históricas e troca de experiências que atraem mais consciências culturais e diversidades que vão além do local geográfico e de uma única língua.

Há também a questão de multiletramentos, que faz referência à multiplicidade dos meios de comunicação, ao aumento das possibilidades linguística e (novamente) cultural presentes no mundo e aponta para a variedade das práticas letradas e para o fato de que os modos de representação variam de acordo com as culturas e contextos. Nessa imensa diversidade, fronteiras deixam de ter sentido separatista e os processos de significação levam à multiplicidade de (re)significações a partir do encontro entre esses múltiplos discursos. Assim, a Educação com L se objetiva a:

  • Expor os alunos o mais cedo possível a mais de uma língua. Tornar-se proficiente em falar línguas é mais eficaz quando a aprendizagem começa em uma idade mais baixa. A imersão por meio da mobilidade, tanto real quanto virtual, também é uma das formas mais eficazes de se tornar totalmente fluente em uma língua adicional.
  • Implementar políticas escolares bi/plurilíngues e que apoiem o desenvolvimento das línguas na escolaridade, promovendo o bilinguismo no aluno e em seu entorno. O biletramento transcende fronteiras linguísticas e é uma habilidade fundamental para a aprendizagem, pois os benefícios cognitivos e psicossociais se estendem a todos.
  • Desenvolver formação de professores e ensino (multi)colaborativo. Professores de idiomas e de disciplinas das áreas do conhecimento precisam de formação sobre como adotar pedagogias inclusivas e linguisticamente sensíveis e gerenciar a diversidade em sala de aula. Oportunidades fortalecidas de mobilidade virtual na formação inicial de professores e para professores atuantes, bem como ensino colaborativo e o envolvimento de toda a escola, são formas eficazes de auxiliar os docentes em sua formação constante a tornarem-se mais conscientes sobre as línguas utilizadas na escola.
  • Apoiar parcerias escolares entre escolas, estados e nações por serem fundamentais para o desenvolvimento contínuo e inovação na formação de professores, pois fornecem uma base para a troca de boas práticas e o desenvolvimento de programas de mobilidade (virtual ou presencial). A entrada de professores no conceito de conscientização linguística é importante e pode ser aprimorada através da troca de práticas pedagógicas com escolas de diferentes localidades.

Por tudo isso, Educação começa com L: língua, letra(mento), limiar, longevidade… e é um processo contínuo.

 

*Luiz Fernando Schibelbain é especialista em ensino de Inglês e Gerente Executivo do PES Language Program.


Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
BRB